INADIMPLÊNCIA NO BRASIL – 17.03.2023

Real Moeda brasileira

Em janeiro deste ano, 70 milhões de brasileiros estavam inadimplentes, segundo dados do Serasa. O valor total dessa dívida ultrapassa R$ 312 bilhões. Por inadimplente, entende-se o consumidor que deixou de efetuar o pagamento de uma dívida, que fica em aberto.

Segundo o levantamento de dezembro, cada pessoa soma, em média, mais de R$ 4.490 em dívidas. O setor que lidera essa relação são os bancos e cartões que representam 28,70% das dívidas, seguido pelos utilities – serviços básicos como gás, energia elétrica e água – 22,25% e o varejo, com 11,4%.

De olho nisso, o Governo Federal anunciou a criação do programa Desenrola, para negociar dívidas e permitir que brasileiros inadimplentes voltem ao mercado. O programa já era uma promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda em sua campanha eleitoral.

Com o Desenrola, a proposta do governo seria facilitar a renegociação das dívidas dos brasileiros com renda de até dois salários-mínimos, em parceria com os bancos públicos. Seria usado, ainda, um fundo de recursos da União para diminuir os riscos.

Para além do governo, a inadimplência também tem mobilizado outras entidades e o setor privado. Em fevereiro, a Via, dona das marcas Casas Bahia e Ponto, começou uma campanha de negociação de dívidas com descontos e condições especiais. A iniciativa vai até o fim de março.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com o Banco Central do Brasil, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e os Procons de todo o país iniciam neste mês um Mutirão de Negociação e Orientação Financeira. O foco do projeto é retomar dívidas atrasadas de cartão de crédito, cheque especial, consignados e outros.

Individualmente, os bancos também criaram plataformas de renegociação. O esforço foi parar na comunicação. O Bradesco apresentou a campanha “Com Bradesco, eu renegocio”. Já o Santander se propõe a ajudar o consumidor a equilibrar as contas.

Recentemente, a vertical de Financiamentos também designou um time de especialistas para interagirem com os consumidores no WhatsApp. A medida teria triplicado os acordos de dívida.

Cláudio Felisoni, professor titular da FEA-USP e presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), explica que a inadimplência está diretamente relacionada à precarização da capacidade de pagamento das dívidas.

Isso porque, ao longo dos últimos anos, a renda das famílias foi comprometida por uma série de fatores que incluem a queda da renda nominal – por pessoa – o aumento da inflação, da taxa de juros e o desemprego.

Ele cita que essas flutuações têm consequências desproporcionais na população. “Onera mais quem ganha menos, porque estão menos preparados para se proteger dos efeitos da inflação”, aponta o professor.

O estudo Inclusão financeira no Brasil 2022, do Plano CDE, aponta que o dano pode ser ainda maior. O levantamento foi realizado em três etapas e contou com um questionário para 2.730 pessoas, de todas as classes sociais, em todos os estados e o Distrito Federal, entre julho e agosto do ano passado.

A pesquisa mostra que os inadimplentes são apenas parte dos endividados. Isso porque, entre as classes C, D e E, o primeiro lugar onde se pede ajuda financeira é na família ou para amigos.

Essas dívidas, realizadas de maneira informal, não são consideradas pelos números de inadimplência. O estudo ainda mostrou que as duas principais razões para a busca de empréstimos pela base da pirâmide foram a compra de comida e pagamento de dívidas essenciais, seguido pelo pagamento de outras débitos.

Breno Barlach, diretor de pesquisa e inovação na Plano CDE, conta que o endividamento com compras essenciais, como comida, água e luz, acende um alerta.

Isso porque as contas básicas não se amortizam ao longo do tempo, como a compra de um bem. Elas se repetem, mensalmente. Assim, o cidadão que já está endividado terá que lidar com as mesmas necessidades e pagamentos no ciclo seguinte.

“O consumidor quando se endivida sempre vai ter que fazer uma escolha. As contas básicas são uma prioridade”, aponta a gerente do Serasa Limpa Nome, Aline Maciel.

Nesse sentido, com uma situação tão crítica, os pagamentos aos bancos e o varejo naturalmente são levados para o fim da fila. “O objetivo dessa família não é se dar bem frente ao grande banco, mas chegar ao final do mês”, explica Breno Barlach.

 

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