O PAÍS DAS APOSTAS #80 BR 11/10/2024

arm-wrestling-567950_1280

A lucratividade das bets está em alta – e as polêmicas também

O brasileiro sempre gostou de fazer uma fezinha. É rifa de colégio, bingo da igreja, raspadinha, Mega-sena, quinta, título de capitalização premiado nos bancos e até o jogo do bicho – que nem o Zeca Pagodinho sabia que era ilegal; Por isso, quando o mercado de apostas online foi legalizado em 2018, durante o governo de Michel Temer, o mundo das Bets comemorou. Estava nascendo um dos maiores mercados de apostas do mundo.
Acelerando para os dias de hoje, vemos que todas essas previsões se confirmaram. As Bets estão por todos os lados e os brasileiros apostando como nunca. Mas também se confirmaram as previsões daqueles que diziam que o endividamento e os problemas socioeconômicos seriam tão grandes quanto os lucros neste setor.
Normalmente, nós preferimos ficar longe de assuntos tão polêmicos. Mas, como entender o espírito do tempo em 2024 sem falar das Bets? Então, pode apostar que vamos tentar entender esse mercado com toda a sorte – e azar – que ele traz.
Bora lá?
Porque o Brasil é a bola da vez?
Já falamos em nosso texto introdutório que o brasileiro sempre curtiu uma boa e velha fezinha. Mas, outros três fatores também contribuíram para que as apostas no Brasil se tornassem um sucesso. O primeiro, foi a pandemia que deixou o brasileiro em casa, sem muitas opções de entretenimento. O segundo foi o alto volume de investimento em marketing feito pelas casas de apostas por aqui. E o terceiro, acredite se quiser, foi o lançamento do Pix.
No mercado internacional das apostas, o meio de pagamento tupiniquim é reconhecido como uma verdadeira revolução. A aprovação instantânea do Pix, deixa as apostas esportivas muito mais rápidas e emocionantes – e com muito menos risco de fraude para o lado das bets.
E para deixar o cenário ainda mais atrativo, mesmo com um enorme volume de dinheiro rolando, as casas de apostas não estão pagando um centavinho de imposto sequer. A nova legislação, que taxa as empresas em 35% e os apostadores em 15%, já está aprovada, mas entrará em vigor somente em janeiro de 2025.
Isso fez o Brasil se tornar, em menos de 5 anos, um dos maiores mercados de apostas do mundo, com valor de apostas equivalente a 1% do seu PIB. Pra entender com mais profundidade a relação emocional do brasileiro com as Bets e como elas impactam o país de forma econômica e social, recomendamos este episódio do Mamilos – podcast que sempre nos brinda com ótimas análises sobre assuntos polêmicos.
O futebol, as apostas e as polêmicas
Embora existam diversos tipos de apostas rolando no mercado brasileiro, o mercado de jogos esportivos no futebol segue líder soberano. Para te dar uma ideia da força desta união, as casas de apostas respondem por 68% dos patrocínios masters dos clubes das Séries A, B e C do Brasileiro. Já, os gastos das bets com futebol estão estimados em R$ 560 milhões.
Mas, neste caso, o aprendiz já superou o mestre. Segundo o The Bizness, o mercado do futebol — que inclui transferência de jogadores, premiação de campeonatos, patrocínios e cotas de transmissão televisivas — movimenta na casa dos R$ 50 bilhões por ano, no Brasil. Já o mercado das apostas esportivas movimenta cerca de R$ 150 bilhões — simplesmente o triplo.
Mas, é claro que esse casamento não ficaria longe das polêmicas. Jogadores dos principais times do país foram acusados de ter recebido dinheiro para manipular partidas. Alguém sabe se o tal conflito de interesse caiu em desuso?
Viciados em Bets?
Mas, engana-se quem pensa que as apostas são apenas entretenimento e divertimento. Relatos de brasileiros viciados tem se tornado cada vez mais comuns, como o comentário desesperado da esposa de um apostador viciado no Reclame Aqui que viralizou nas redes sociais.
Nas últimas semanas foram divulgados dados bastante desconfortáveis. Um deles foi que beneficiários do Bolsa Família gastaram 3 bilhões de reais em bets somente no mês de agosto. Cerca de 70% dos apostadores são os próprios chefes de família, isto é, os responsáveis pela aplicação do dinheiro recebido pelo programa para custear as necessidades mais básicas de seus dependentes.
O ministro da economia, inclusive, comparou as Bets com uma pandemia e lançou mecanismos para evitar que o dinheiro do Bolsa Família seja utilizado com este fim, inclusive impedindo mais de 500 sites de apostas de funcionar.
Influenciadores são má influência?
Esse mercado não teria chegado a esse tamanho sem a participação dos influenciadores. Mas, acontece que esta influência não tem sido totalmente honesta. Influenciadores foram acusados e até presos por divulgarem sites de apostas utilizando contas viciadas para sempre vencerem – enganando seus seguidores sobre a probabilidade de vitória.
Gustavo Lima chegou a receber mandado de prisão preventiva por envolvimento em suposto esquema de lavagem de dinheiro com a Esportes da Sorte. A influenciadora Deolane Bezerra segue em prisão domiciliar por ligação com o mesmo caso.
Para frear esta onda de má influencia, a nova lei das Bets, que entrará em vigor em 2025, proíbe a veiculação de campanhas que prometam ganhos irreais ou comparem apostas a investimentos. Outra proibição será o call to action sugerindo uma ação imediata por parte do apostador — como um “Clique aqui e comece a jogar!”, por exemplo.
Em países como o Reino Unido, o modelo de regulamentação é um dos mais avançados. A Gambling Commission exige que as bets ofereçam ferramentas para limitar as apostas, fornecer suporte para jogadores compulsivos e restringir propagandas que incentivem o jogo irresponsável.
E a propaganda com isso?
As bets também se tornaram um dos maiores anunciantes do país. Em 2023, foram veiculados 88 mil anúncios de casas de apostas nos mais diversos canais. O total investido em mídia foi superior a R$ 2 bilhões. Enquanto o dinheiro das apostas rega a plantação da propaganda, profissionais de marketing já reclamam que o investimento das bets está inflacionando patrocínios e espaços publicitários, especialmente àqueles ligados ao futebol.
Mas, posicionamentos fortes ainda são raros em um mercado tão frutífero. Mas, alguns líderes têm se posicionado claramente, como é o caso do Ian Black, CEO da agência New Vegas no post abaixo. Vozes de peso como a de Edu Lyra também tem feito coro para cobrar mais responsabilidade de todos os entes ligados à esta indústria.
Vale lembrar que no início do ano, o Conar divulgou recomendações para uma publicidade saudável no mudo das apostas. Então o “Jogue com responsabilidade” virou o novo “beba com moderação”, como afirmou a Beatriz Guarezi da Bits to Brands. Mas, ainda existe um longo caminho para que as bets e seus marketeiros sejam, de fato, considerados responsáveis.

3º lugar
é a posição que o Brasil ocupa no ranking mundial em consumo de casas de apostas. Os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em apostas no último ano (Forbes).
308
é o número de marcas de apostas esportivas operando no Brasil no primeiro trimestre de 2024. Em 2020 esse número era apenas de 51 marcas, um crescimento de 500%. (PwC).
36%
das pessoas no Brasil afirmam já ter feito alguma aposta online. Nesse grupo, 78% dizem que apostam com frequência (XP Investimentos).
1/3
dos apostadores tem dívidas. Quase metade deles é formada por jovens na faixa dos 20 anos e 34% pertencem às classes C, D, e E (Gama Revista).
22 milhões
de pessoas fizeram ao menos uma aposta nas “bets” em 2023, o equivalente a 14% da população brasileira (InfoMoney).

FONTE: (Nós da Cordão)

 

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência de acordo com a nossa
Política de Privacidade ao continuar navegando você concorda com estas condições.