Hoje, a população de 50 a 59 anos corresponde a 11,4% da população, e 60 anos ou mais, 15,1%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentro das empresas, porém, os números são diferentes. Na grande maioria das companhias, esses profissionais representam apenas de 3 a 5% do quadro de colaboradores, de acordo com a Maturi.
A Ernst & Young e a agência Maturi fizeram a pesquisa: “Por que pessoas 50+ não são consideradas como força de trabalho em um país que envelhece?”. O estudo ouviu quase 200 empresas no Brasil e mostrou que as companhias têm apenas de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro de funcionários. Além disso, 78% das empresas consideram-se etaristas e têm barreiras para contratação nessa faixa de idade.
Hoje em dia, especialmente no mercado de trabalho, questões que envolvem idade estão sendo cada vez mais discutidas e colocadas em pauta, seja para algo positivo ou negativo. “Não deveria ser assim, não podemos colocar as pessoas em caixas de acordo com suas idades. Por exemplo: os mais velhos, por serem mais experientes, contribuem de formas que alguém que está começando jamais poderia. O mesmo vale para os mais novos, que podem trazer ideias e visões de mundo totalmente diferentes e atuais. Isso só reforça que a integração vem para somar e contribuir de maneira positiva para a empresa”, afirmou Pedro Signorelli, especialista em gestão, com ênfase em OKRs.
Para dar um colorido neste tema, Pedro Signorelli lembra que alguns anos atrás, uma pessoa perto dos seus 30 anos, argumentou que um certo framework de gestão de TI, o ITIL, não deveria ser mais utilizado porque era velho. “Ótimo, o que colocamos no lugar? Qual a proposta para colocar no lugar e resolver os problemas que este framework resolve? O ponto é que pessoas mais velhas podem sim agregar muito valor, por meio de sua experiência, pois já cometeram diversos erros ao longo de suas vidas. Não precisamos cometer os mesmos erros, vamos cometer outros. Não precisamos reinventar a roda”, avalia.
Pedro afirma ainda que quando a liderança é boa, logo percebe que alimentar esse conflito entre gerações é uma perda de tempo e de aproveitamento do potencial das pessoas, ainda mais quando deveria estar incentivando que conversem, que troquem experiências, e principalmente, que aprendam uns com os outros. As diferenças vão se fazer presentes, mas podem ajudar a encontrar pontos que vão fortalecer o time como um todo.
É claro que promover essa interação não é um processo tão fácil. “Ser um bom líder requer muitos requisitos e responsabilidades, que dobram quando falamos de alguém que precisa liderar colaboradores em faixas etárias diferentes. Porém, é sempre possível encontrar um meio termo, para que se possa englobar esses dois mundos: ter escuta ativa e saber o que pedir/para quem pedir, vai ajudar a encontrar formas de extrair o melhor de cada um”, aponta Pedro.
O etarismo é um tipo de preconceito pouco divulgado, mas que tem sido relatado, conforme aponta o advogado trabalhista André Leonardo Couto, gestor da ALC Advogados. O especialista lembra que esse tipo de discriminação, prevista na Lei 10.741/2003, do Estatuto do Idoso, pode acarretar processo por dano moral.
Envelhecer é um processo natural da vida e infelizmente, em nossa sociedade, existe uma percepção de que as pessoas idosas não devem ser valorizadas e com isso, surge o etarismo. Também chamado de ageísmo ou idadismo, ele pode ser definido como discriminação, preconceito e a aversão contra pessoas com idade mais avançada.
André Leonardo Couto ressalta a importância de os gestores entenderem o que é o etarismo e como ocorre. “Por parte das gestões das empresas, pode ocorrer quando as empresas pagam salários mais baixos, sob a justificativa de que essas pessoas mais velhas são menos produtivas. Acontece também quando colegas de trabalho fazem comentários relacionados à idade ou falam com pessoas mais velhas em tom irônico e humilhante. Isso é preocupante, pois muitas vezes as ofensas, até de brincadeira, sinalizam algum problema interno que precisa de solução”, diz.
Segundo o especialista em direito do trabalho, essa discriminação pode acarretar penalistas previstas na Lei 10.741/2003, do Estatuto do Idoso. A legislação descreve que o delito de discriminação contra idoso, consiste no ato de, em razão da idade, tratar a pessoa de forma injusta ou desigual, criando empecilhos ou dificuldades de acesso a operações bancárias, meios de transporte, ou criar embaraços ao exercício da cidadania, por motivo da sua idade. Conforme o Artigo 96 do Estatuto do Idoso, pode trazer uma pena de reclusão de seis meses a um ano e multa para quem comete. “Lembrando que o dano moral já está sendo pedido nas ações e aceito nesses casos de etarismo. Assim, caso seja provado o preconceito através de ofensas e outras formas de desestimulo, tanto pelo relato, quanto testemunhas, as empresas podem ser processadas, como inclusive, já vem sendo”, completa André Leonardo Couto.
O fato é que o país ainda está longe de conseguir resolver os problemas relacionados ao etarismo, mas uma forma de começar é ter líderes que entendam que manter pessoas de gerações diferentes na empresa é um trunfo e que colaboradores de idades distintas trabalhando juntos pode ser um fator predominante para o sucesso da companhia, que passará a enxergar oportunidades onde ninguém mais vê.